O Concílio de Jerusalém (49 d.C.)
A Questão da Lei Mosaica e os Gentios
O Concílio de Jerusalém, ocorrido por volta do ano 49 d.C., foi um dos eventos mais importantes da Igreja primitiva. Ele marcou um momento decisivo na expansão do cristianismo, pois tratou da questão da necessidade (ou não) de os gentios que se convertiam ao cristianismo seguirem a Lei Mosaica, especialmente a prática da circuncisão. Esse debate foi fundamental para a separação entre o cristianismo e o judaísmo, definindo a identidade da nova fé.
O Contexto do Concílio
Nos primeiros anos após a morte e ressurreição de Jesus, o cristianismo era visto como um movimento dentro do judaísmo. Os primeiros seguidores de Cristo eram judeus que continuavam a observar a Lei Mosaica e a frequentar o Templo em Jerusalém. No entanto, com a pregação do Evangelho para os gentios (não judeus), uma nova questão surgiu: esses convertidos deveriam seguir todas as exigências da Lei de Moisés, incluindo a circuncisão e as restrições alimentares?
A controvérsia surgiu principalmente na igreja de Antioquia, onde Paulo e Barnabé estavam evangelizando os gentios. Alguns cristãos de origem judaica insistiam que, para serem salvos, os gentios deveriam ser circuncidados e obedecer à Lei de Moisés (Atos 15:1). Paulo e Barnabé se opuseram a essa ideia, argumentando que a salvação vinha pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei. Para resolver essa questão, foi convocado um concílio em Jerusalém, reunindo os principais líderes da Igreja, incluindo os apóstolos e presbíteros.
Os Debates e as Posições no Concílio
No Concílio de Jerusalém, duas posições principais foram discutidas:
Grupo dos judaizantes (fariseus convertidos ao cristianismo): Defendiam que os gentios deveriam ser circuncidados e seguir a Lei de Moisés, pois acreditavam que a fé em Cristo não anulava as obrigações da aliança judaica.
Grupo de Paulo e Barnabé: Argumentavam que a salvação vinha pela graça de Deus mediante a fé em Cristo, sem necessidade de seguir os ritos judaicos. Eles relataram como Deus estava operando entre os gentios sem exigir a circuncisão.
O apóstolo Pedro tomou a palavra e lembrou a todos que Deus havia lhe revelado, por meio da visão de um lençol com animais impuros (Atos 10), que os gentios também faziam parte do plano divino de salvação. Ele enfatizou que Deus havia purificado seus corações pela fé e questionou por que impor um fardo que nem os próprios judeus conseguiram carregar (Atos 15:7-11).
Tiago, líder da igreja de Jerusalém e irmão de Jesus, tomou a decisão final, citando as Escrituras e afirmando que os gentios não deveriam ser obrigados a seguir toda a Lei Mosaica. No entanto, sugeriu que se abstivessem de certas práticas ofensivas aos judeus convertidos, como comer carne sacrificada a ídolos, carne de animais estrangulados e sangue, além de evitar a imoralidade sexual (Atos 15:19-21).
A Decisão e Suas Consequências
A decisão tomada pelo Concílio de Jerusalém foi fundamental para a identidade do cristianismo nascente:
- Os gentios não precisavam ser circuncidados nem seguir integralmente a Lei Mosaica para serem salvos, pois a salvação vinha pela fé em Cristo.
- Foram estabelecidas quatro restrições para facilitar a convivência entre cristãos judeus e gentios, visando a harmonia dentro da Igreja.
- A Igreja se consolidou como uma fé universal, aberta a todas as nações, e não apenas uma seita dentro do judaísmo.
O Concílio de Jerusalém marcou um passo importante para a separação entre judaísmo e cristianismo, preparando o caminho para a expansão missionária de Paulo e dos apóstolos pelo mundo gentio. Essa decisão foi essencial para que o cristianismo se tornasse uma religião global, acessível a todos, independentemente de origem étnica ou cultural.
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