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Mostrando postagens com o rótulo Crônicas que Respiram

👑 Onde Mora o Altíssimo

👑 Crônicas que respiram III. 🌌 Onde Mora o Altíssimo Narrado por Nabucodonosor Eu levantei os olhos. E pela primeira vez… vi. Não o céu, mas o Trono. Não as estrelas, mas Aquele que as chama pelo nome. E a razão… voltou para mim. Mas ela voltou diferente. Porque quando o orgulho foi embora, entrou um tipo novo de lucidez: a que nasce do chão, a que só cresce no pó. Minha coroa… não tinha mais valor. Meu trono… era só madeira. Mas meus olhos ardiam com a glória do Invisível. “Quebrou um império para salvar um homem.” Restituíram-me o reino. Mas não era mais meu. Não como antes. Antes eu mandava… agora eu entendia. Antes eu falava… agora eu temia. Antes eu reinava… agora eu me curvava. Não a estátuas, nem a ídolos, mas Ao Que Vive para Sempre. “Quebrou um império para salvar um homem.” Hoje, minha crônica não fala de muralhas. Fala de misericórdia. Não celebra vitórias… celebra o perdão que me alcançou quando eu era só poeira entre as patas de bois. Porque ...

👑 O Coração de Besta

👑 - "Crônicas que respiram" II. 🐂 O Coração de Besta Narrado por Nabucodonosor Eu construí. Com mãos humanas, sim — mas com visão divina. Ou assim pensei. Cada tijolo da Babilônia carregava meu nome. Cada portão, minha glória. Cada suspiro do povo… era para mim. Um ano passou desde o sonho. A estátua? Pó de lembrança. A pedra? Invenção de exilados. Naquela manhã, andei no terraço do palácio. E o céu estava claro. O mundo inteiro… parecia inclinado para mim. “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei?” — falei. — “Com meu poder… e para minha glória?” E foi ali… no meio do orgulho, que o céu me respondeu. Não com trovões. Não com guerra. Mas com sentença. “Passou de ti o reino, ó rei.” “Tirar-se-á de ti o entendimento.” “Comerás erva como os bois.” E o homem… morreu em mim. O que sobrou? Pelos longos. Unhas quebradas. Rugidos em vez de palavras. Olhos cheios de vento, mente cheia de névoa. Não sabia mais meu nome. Nem minha história. N...

👑 “O Homem de Ouro”

 👑"Crônicas que Respiram" 🗿 I. O Homem de Ouro Narrado por Nabucodonosor Naquela noite… eu não dormi. Ou, se dormi, o sono não me pertenceu. Porque o que vi… não era um sonho. Era um aviso. Um trovão no meio da glória. Uma estátua. Cabeça de ouro. Peito de prata. Ventre de bronze. Pernas de ferro. E pés… misturados. Frágeis. E uma pedra — lançada sem mãos — que atingia tudo e fazia pó do que eu achava eterno. Acordei com o peito em chamas. E o trono… parecia pequeno. Chamei os sábios. Os magos. Os astrólogos. Todos de olhos vazios. Prometeram muito. Entregaram nada. “Digam-me o sonho… e a interpretação.” — Eu disse. “Ou morrerão.” Era justiça ou desespero. Talvez os dois. E então… Veio Daniel. Um exilado. Um cativo. Ele não tremia. Não pediu ouro. Não buscou glória. Disse que seu Deus revelava mistérios. E então… falou. O que só eu sabia. Cada imagem. Cada detalhe. Como se tivesse estado dentro do meu próprio sono. E quando terminou… me vi...

🔥No Caminho, o Fogo

🔥 "Crônicas que respiram" No Caminho, o Fogo Narrado por um dos discípulos de Emaús Ele morreu. Eu vi a terra escurecer. O templo tremer. O véu se rasgar como carne. E mesmo assim… eu fugi. No terceiro dia, disseram que o túmulo estava vazio. Algumas mulheres, depois Pedro, depois João. Mas o que é esperança quando o coração ainda sangra? Fui para Emaús com ele — o outro. Dois passos entre lembranças, perguntas demais, fé de menos. Falávamos sobre tudo. Sobre Ele. Sobre o que pensávamos que seria. Sobre o que vimos… E o que não conseguimos crer. Foi quando um homem se juntou a nós. Caminhava como quem nos conhecia. Perguntava como quem já sabia. E ouvia… como Ele ouvia. Então, começou a falar. De Moisés até os profetas. Como se cada letra apontasse para um só nome. E as palavras… as palavras eram brasas. Não queimavam por fora. Mas acendiam por dentro. Algo em mim queria se curvar. Algo em mim queria correr. Mas a dor ainda fazia sombra. Chega...

⛈️O Túmulo Vazio

⛈️Crônicas que respiram O Túmulo Vazio Narrado pela Morte "Eu vi reis caírem em silêncio. Eu vi guerreiros gemerem. Eu vi profetas tremerem. Mas Ele... apenas veio." "Veio ferido, sangrando, desfigurado — mas sem temor. Veio como quem já conhecia o caminho, como quem não era prisioneiro, mas visitante. E eu, a Morte, senti algo que jamais havia sentido: receio." "Recebi-o com minhas mãos frias, como a todos. Deitei-o em meu leito de pedra, como a todos. Cerquei-o com silêncio... como a todos. Mas nada era como antes." "Porque algo dentro de mim vacilava. Seu sangue... não era como os outros. Era um sangue que falava. E o que dizia, queimava." "O Inferno, meu aliado, se encolheu. Não era mais abrigo — era palco da vergonha. Os gritos que outrora celebravam minha vitória, agora tremiam diante Dele." "Ele não dormia. Ele descia." "Três dias. Três dias em que os portões que nunca cederam começaram a ranger....

⛈️O Céu Chorou

⛈️Crônicas que respiram O Céu Chorou No princípio, eu era abrigo. Eu, o céu, vestia a criação com luz e esperança. Era palco de promessas, moldura de dias e noites, testemunha silenciosa do eterno sobre o tempo. Mas naquele dia... eu estremeci. O Filho subiu. Não num trono, mas numa cruz. E cada passo dele feria não só a terra — feria a mim. A luz fugiu do meu rosto. O sol se calou em agonia. As nuvens se enegreceram, pesadas com um choro que não podiam conter. Eu rugi. Não com trovões, mas com um grito contido, um pranto sem palavras que atravessou os céus. Eu vi o sangue cair. E com ele, cada gota era como um prego cravado em mim. Eu, o céu, o alto, não suportei. As aves se calaram. O ar cortava como lâmina. A criação inteira prendia o fôlego. E então… o grito. — “Eli, Eli, lamá sabactâni?” Esse som atravessou meus véus. Rasgou minha alma infinita. Ecoou entre galáxias, e nada pôde respondê-lo. Nem eu. Nem as estrelas. Nem os anjos. Foi ali que rompi. C...

💧Renovando o nome entre lágrimas

 💧Crônicas que respiram Volume IV Capítulo 3: As Lágrimas Que Me Deram um Nome Novo (Narrado por Noemi) As lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não de tristeza… mas de um misto que nem sei explicar. Talvez seja alívio. Talvez saudade. Ou talvez seja só o corpo lembrando que ainda sou humana, mesmo depois de perder quase tudo. Estou com um menino nos braços. O filho da minha nora. Mas ele é mais que isso. Ele é um milagre com olhos fechados e respiração serena. Eu já chorei por amor. Chorei por saudade. Chorei por enterrar sonhos. Mas essa lágrima que cai agora é diferente. É a lágrima de quem achava que o céu estava fechado, e então o sol entrou pela fresta da janela, sem pedir licença. Quando perdi meu marido, eu não chorei — eu gritei. Quando perdi meus filhos, eu não questionei — eu me calei. Mas quando ela disse que não me deixaria, que o Deus dela seria o meu Deus, eu me senti… vista. Rute. Ah, Rute. Ela não me deu promessas. Me deu presença. E foi isso que m...

💧O Campo Onde Floresceu a Esperança

 💧Crônicas que respiram Volume IV Capítulo 2: O Campo Onde Floresceu a Esperança (Narrado por Boaz) Nunca imaginei que esperança pudesse andar entre espigas. Mas então ela apareceu. Eu já conhecia o som do vento passando pelas folhas. Conhecia o cheiro da terra molhada, os cantos dos ceifeiros, as vozes apressadas do trabalho. Tudo isso era meu mundo… e mesmo assim, naquela manhã, eu me senti estrangeiro dentro do meu próprio campo. Ela andava devagar, os olhos baixos, colhendo o que sobrava dos outros. Mas havia algo na maneira como ela tocava o chão, como recolhia cada espiga com respeito, como quem está agradecendo pela chance de respirar mais um dia. — Quem é aquela moça? — perguntei ao encarregado. Ele disse o nome da sogra, não o dela. "É a moabita... aquela que veio com Noemi." Como se ela fosse uma extensão da dor de outra mulher. Como se perder tudo fosse a única identidade que restou. Mas eu a vi. Não como viúva. Não como estrangeira. Vi uma mulher inteira...

💧Três Túmulos e um Berço

💧Crônicas que respiram Volume IV Capítulo 1: Três Túmulos e um Berço (Narrado por Rute) A dor vem como maré… e leva o ar embora. Meus dedos afundam no cobertor de linho. O quarto é simples, mas a dor o enche de ecos. Estou suando. Tremendo. E em meio às contrações, entre um grito e outro, não é o bebê que me vem à mente. É ele. É eles. É ela . Outra onda. Grito de novo. — Respira, Rute… — sussurra uma voz que já me sustentou quando o mundo desabou. Noemi. Ela segura minha mão. Com força. Com amor. Com a saudade de quem enterrou tudo e mesmo assim continuou. Respiro. E então, como se a dor abrisse uma porta, a lembrança volta inteira... A terra estava seca naquela manhã. Seca como meu coração agora. Três túmulos. Três pedaços arrancados do nosso pequeno mundo. E de repente, a casa ficou silenciosa demais para uma família que já foi cheia de risos. Ele foi o último a partir. Meu marido. Meu amor. Mas antes dele... O pai. O irmão. Noemi não chorava alto. Mas seu olhar......