⚓ Crônicas que respiram – Vol. II
Capítulo 3: O Último Olhar
Carta a um Homem Que Já Partiu
O meu caro amigo Júlio,
Espero que ainda possas receber esta carta.
Deixei Roma com tamanha urgência que sequer tive tempo de responder-te, quanto
mais de avisar-te. Não era uma fuga… era uma busca.
A tua última carta me queimou os olhos. Cada frase sobre
aquele homem — Paulo — soou como uma pedra lançada ao centro de um lago. As
ondas se espalharam, e algo dentro de mim se quebrou.
Por isso parti. Deixei o porto, os soldados, os gritos.
Deixei até mesmo minha espada, como se o ferro em minhas mãos fosse uma
extensão do que em mim já não fazia sentido.
Agora escrevo de Jerusalém.
Sim, a cidade que ele tanto mencionava. A cidade que fere e
cura, que apedreja profetas e faz nascer reis. Aqui onde tudo parece mais real,
mais sagrado… e também mais pesado.
Desde que cheguei, vejo o rosto dele por toda parte. Não o
rosto físico, mas o olhar.
O último olhar.
Lembras-te do dia em que me mandaram executar Paulo?
Eu, o soldado endurecido, o carrasco sem nome, com mãos que já não tremiam…
naquele dia, hesitei.
Ele me olhou de soslaio, sim. Mas não havia medo. Havia
perdão.
Como se, ao olhar em meus olhos, ele visse algo que nem eu conhecia ainda.
E então ele falou… não comigo, mas com o céu:
“Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a
fé…”
Essas palavras me feriram mais que qualquer lâmina que já
empunhei.
Eu o matei…
Ou pelo menos achei que havia matado.
Mas algo em mim morreu naquele instante — e não era ele.
Desde então, Júlio, tenho me perguntado:
O que é ser livre?
Era ele, o acorrentado, quem sorria. Era ele, o sentenciado,
quem consolava os guardas, quem falava em esperança como quem descreve o nascer
do sol.
Agora estou aqui. No chão onde ele nasceu para a fé.
Sentei-me hoje nas escadarias da velha sinagoga. Uma mulher me viu chorar. Não
disse nada. Apenas sorriu. E naquele sorriso… era como se ouvisse a voz dele de
novo:
“Fui crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo
vive em mim.”
Não entendo tudo ainda, Júlio. Mas creio que o homem que eu
era está sendo despido, camada por camada.
E quanto mais deixo de lado o ferro, a farda e a fúria… mais leve me torno.
Sei que esta carta talvez jamais chegue a ti. Talvez te
encontres distante demais — não geograficamente, mas de alma.
Mas precisava escrever.
Não para ti apenas…, mas para aquele que eu fui.
E para aquele que estou começando a ser.
O prisioneiro havia se tornado portador da liberdade.
E mesmo depois de morto, continua libertando quem se aproxima de sua história.
Com respeito, dor e esperança,
Marco — o que empunhou a espada e agora carrega apenas memória.
✉️ Se essa crônica falou ao seu coração, curta, comente e compartilhe. Que mais corações encontrem liberdade, mesmo entre as correntes da vida.
📖 Capítulo 1 – “O Filho dos Sonhos” 🌾
📖 Capítulo 2 – “No Vale da Humilhação”🌾
📖 Capítulo 3 – “O Trono e o Perdão” 🌾
📖 Capítulo 4 – “Dois nomes, uma promessa”🌾
📖 Capítulo 5 – “O Naufrágio” ⚓
📖 Capítulo 6 – “A ilha” ⚓
📖 Capítulo 7 – “O ultimo Olhar” ⚓
📖 Capítulo 8 – “Perdão Imerecido" 🔓
📖 Capítulo 9 – “Liberdade que condena”🔓
📖 Capítulo 10 – “O ponto final”🔓
📖 Capítulo 11 – “Três Túmulos e um berço” 💧
📖 Capítulo 12 – “O campo onde floresce a esperança."💧
📖 Capítulo 13 – “Renovando o nome entre lágrimas” 💧
📖 Capítulo 14 – “Rompendo Fronteiras"🌾
📖 Capítulo 15 – “O Céu Chorou.” 🌧️
📖 Capítulo 16 – “O Túmulo Vazio" 🌧️
📖 Capítulo 17 – “No caminho, o Fogo” 🔥
📖 Capítulo 18 – “O homem de Ouro"👑
📖 Capítulo 19 – “Coração de Besta”👑
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