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A Buzina de Ouro

A Buzina de Ouro

Uma fábula sobre o chamado, a humildade e a verdadeira aliança.

Dentro de um velho tronco oco, onde o musgo brilhava sob a luz filtrada do amanhecer, havia um formigueiro antigo, conhecido por todos como o Formigueiro Real da Floresta Velha. Ali governava um senhor justo, sábio e respeitado, chamado simplesmente de Antor, o Provedor. Seu maior tesouro era sua filha, Aurora, uma jovem formiga de coração gentil e olhos atentos, como estrelas que brilham antes do orvalho.

Quando chegou o tempo de seu aniversário, Antor desejou fazer uma grande celebração. Não apenas por tradição, mas por gratidão à vida, à floresta, aos ciclos que sustentam as colônias. Seria um banquete de honra.

Mas este não era um convite comum.
Antor tirou, de um cofre enterrado sob o Salão das Raízes, um instrumento raro e antigo: a Buzina de Ouro. Forjada no tempo dos Primeiros Túneis, ela só era tocada em dias de promessa. Seu som era inconfundível — um chamado claro, doce e profundo, que ecoava não apenas pelos galhos e túneis, mas também pelos corações atentos. O senhor confiou a buzina ao seu servo fiel, Lumen, uma pequena formiga mensageira de patas ligeiras e espírito sincero.

“Vai”, disse Antor, “toca a buzina diante das entradas dos meus antigos aliados — as Formigas de Fogo. Meus amigos de longos verões.”

Lumen assim fez.
Com reverência, tocou a Buzina de Ouro nas entradas dos formigueiros mais ilustres do bosque. O som ressoou como aurora em cordas de mel.

Mas as respostas foram… mornas.

— “Estou escavando um novo túnel de comércio”, disse uma.
— “Justo nesse fim de semana é o casamento da minha filha”, disse outra.
— “Ah… seria uma honra, mas não posso me ausentar do meu posto no setor de segurança.”

Eles sabiam do convite. Tinham sido avisados com antecedência.
Mas não deram importância.

Quando Lumen voltou com os túneis ainda cheios de silêncio, Antor suspirou. Mas não desistiu.

“Então toca a buzina de novo”, disse ele, “mas desta vez… na direção do solo humilde.” Lumen caminhou até as raízes escondidas, onde moravam formigas simples: operárias, jardineiras, limpadoras de folhas e até uma jovem formiga poetisa, que morava sozinha em uma casca caída.

E quando a Buzina de Ouro soou entre elas…
— Pararam.
— Ouviram.
— E vieram.

Chegaram tímidas, com patas sujas e olhos brilhando.
No salão, o chão era de pétalas secas, e o mel jorrava em conchas naturais.
Elas dançaram com Aurora, cantaram com Lumen, e celebraram sob o brilho dos vaga-lumes.

Foi uma festa como nenhuma outra.
Dias depois, veio a tempestade.
Junto dela, uma horda de besouros escavadores famintos, que rasgaram a terra com presas de ferro.
No tumulto, Aurora, que buscava flores para fazer mel de lembrança, ficou presa fora do formigueiro. Sozinha. Cercada.

O Senhor Antor, aflito, enviou sinal às antigas Formigas de Fogo.
Elas ouviram… mas hesitaram.
— “É muito arriscado.”
— “Nosso território está seguro, não podemos sair.”
— “A culpa foi dela por ter saído.”

Sem resposta, Antor então retirou a Buzina de Ouro mais uma vez.
E pediu a Lumen que a tocasse… pela última vez. O som atravessou a floresta.
E como num sussurro acordado, as formigas do banquete ergueram-se de onde estavam.
Formaram filas, correntes, laços com folhas e cipós.
Cavaram túneis paralelos.
Correram, voaram com a ajuda de besouros aliados, e resgataram Aurora, ainda cercada, mas viva.

Ela chorou, abraçando cada uma delas, sem palavras.
Mas elas souberam retribuir ao convite especial. 
No dia seguinte, o Formigueiro Real preparou outra mesa — pequena, simples, com folhas verdes e luz de manhã, para seus verdadeiros amigos.

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