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Às Margens da Alma

Às Margens da Alma

    Às margens do Mar da Galileia, o desejo por um novo recomeço ardia no coração de Pedro. Como alguém atormentado pelo peso da negação, ele se sentia desorientado, buscando desesperadamente agarrar-se a qualquer fio de esperança. Talvez sua mente o levasse de volta aos momentos ao lado do Mestre — as curas, os milagres, as palavras de vida eterna — mas algo maior o movia: a certeza de que ali, no mesmo lugar onde tudo começara, ele poderia encontrar redenção. Aquela praia, onde um dia Jesus o chamara para ser pescador de homens, tornava-se agora o cenário de um encontro que mudaria tudo outra vez.

    Com olhares desconfiados e um grande nó na garganta, Pedro não sabia o que esperar. Antes que pudesse medir suas palavras, a voz de Jesus soou suave, mas firme: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?” Era uma pergunta que atravessava as ondas do coração, uma lembrança de quem ele era, um homem simples, humano, falho, mas amado. O uso de “Simão, filho de João” não era apenas uma formalidade; era um lembrete da sua essência, da sua fragilidade, mas também do propósito que o aguardava.

    Pedro hesitou. O calor da fogueira parecia trazer de volta o peso daquela noite terrível, quando sua voz ecoou três vezes negando o Mestre. E agora, diante de Jesus, ele não podia fugir de si mesmo. Com os olhos marejados, ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo.”

    Jesus não se deteve. Mais duas vezes, a pergunta foi repetida. Cada palavra soava como uma onda, quebrando lentamente os muros de culpa e vergonha que Pedro havia construído ao redor do coração. “Apascenta os meus cordeiros,” disse Jesus, entregando-lhe um chamado que transcendia a dor do passado.

    Jesus, o verdadeiro Mestre pedagógico, nos conduz com sabedoria pelos labirintos de nossas memórias, usando símbolos e momentos para revelar verdades profundas. Para Pedro, a fogueira à beira da praia era um lembrete de sua fraqueza, mas também o lugar onde o amor restaurador de Jesus o encontrava. Da mesma forma que ele havia negado o Mestre ao lado de uma fogueira, agora era à luz de outra fogueira que Jesus o chamava à reconciliação.

    Os peixes também contavam uma história. Ao ordenar que lançassem a rede após uma noite infrutífera, Jesus demonstrava que o sustento não vinha das habilidades humanas, mas d’Ele, que é Senhor sobre todas as coisas. Ele trazia à memória o primeiro encontro com Pedro, quando o chamou para ser pescador de homens, e agora o comissionava para uma nova missão: apascentar Suas ovelhas. O pescador tornava-se pastor, e com isso, os conflitos internos de Pedro encontravam resolução.

    Jesus sempre nos conduz ao ponto de partida, não para nos humilhar, mas para nos dar uma nova chance. Ele recria cenários, permitindo que nossas memórias não sejam apenas lembretes de nossas falhas, mas também sinais da Sua graça e do Seu poder para restaurar. Preparar o pão e o peixe era mais do que um gesto de hospitalidade; era um ato simbólico. Ao repartir o pão, Jesus não apenas alimentava o corpo de Pedro, mas sua alma, lembrando-o de que a comunhão com Ele é o que realmente importa.

    Cada gesto de Jesus naquela manhã carregava uma mensagem de restauração. Ele não ignorava os erros de Pedro, mas também não o definia por eles. Ao contrário, Ele transformava a dor em propósito, a negação em oportunidade, e o fracasso em um novo começo.

    Assim como fez com Pedro, Jesus também nos encontra às margens de nossas almas, onde os traumas e as feridas parecem nos prender ao passado. Ele nos chama pelo nome, lembra-nos de quem somos e, com Seu amor, nos conduz ao lugar onde podemos escolher recomeçar. Afinal, não é pela perfeição que somos chamados, mas pela graça que restaura, transforma e nos comissiona a novos desafios.

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