Da cegueira à visão divina
Saulo, antes de se tornar Paulo, era um homem cheio de zelo, mas sem direção. Perseguia com fervor a Igreja de Cristo, acreditando estar defendendo a justiça de Deus. Um homem altamente instruído na lei judaica, discípulo de Gamaliel, ele era respeitado por sua sabedoria, mas andava cego à verdadeira revelação. Sua paixão o movia, mas era uma paixão sem propósito divino. A perseguição aos cristãos não era apenas física, mas também cultural e religiosa. Saulo não entendia que, ao tentar silenciar os seguidores de Cristo, ele estava lutando contra a obra redentora de Deus, que buscava reconciliar o mundo consigo mesmo.
Muitos de nós, assim como Saulo, acreditamos estar em perfeita comunhão com Deus, quando na verdade estamos cegos por tradições, orgulho e justiça própria. Paulo, sem saber, era prisioneiro de sua própria religiosidade, acreditando que estava fazendo a obra de Deus, mas movido por um zelo vazio e carnal.
A verdadeira identidade de um cristão começa no reconhecimento de que somos inimigos de Deus até que Ele nos alcance com Sua graça. Saulo, em sua cegueira espiritual, não compreendia que o Messias que ele perseguia era o próprio Filho de Deus. Porém, o plano de Deus é maior do que nossa ignorância e rebeldia. Jesus encontrou Saulo no caminho para Damasco, e, de perseguidor, ele se tornou perseguido — não mais pelo seu povo, mas pelas forças espirituais que buscavam impedir o avanço do evangelho.
Deus não escolhe os capacitados, Ele capacita os escolhidos.
Saulo, o homem cheio de letras e leis, precisou perder a visão para enxergar o que era realmente importante. A cegueira física que experimentou por três dias foi apenas uma representação da cegueira espiritual em que vivia. Quantos de nós temos vivido assim, achando que nossa justiça, nossas obras e nosso conhecimento são suficientes para agradar a Deus, mas no fundo estamos distantes de Seu coração?
Assim como Paulo, muitos líderes religiosos e homens e mulheres de fé hoje estão presos em uma religiosidade que mais afasta do que aproxima as pessoas de Deus. Estão cegos pelo orgulho, pela busca de reconhecimento e pela falsa segurança de que suas boas obras garantem seu lugar no Reino de Deus.
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie." (Efésios 2:8-9)
Paulo precisou ser quebrantado. Sua vida inteira mudou quando ele entendeu que o que mais importava não era o seu zelo pela lei, mas a graça que vinha do sacrifício de Cristo. Ele passou de perseguidor a apóstolo, de defensor da lei a proclamador da graça.
A transformação de Paulo nos ensina que é preciso perder para ganhar.
Assim como Saulo teve que ser derrubado de seu cavalo para ser levantado por Deus, muitas vezes precisamos ser humilhados para compreender que nossa verdadeira força está em Cristo, e não em nós mesmos. Paulo, após sua conversão, sofreu inúmeras perseguições, foi apedrejado, preso e, por fim, martirizado. Mas ele entendeu que o sofrimento por Cristo era uma honra, e não uma vergonha. "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro" (Filipenses 1:21).
A jornada de Paulo não foi fácil. Ele enfrentou constantes desafios e batalhas, tanto externas quanto internas. Mas ao longo do caminho, ele aprendeu a depender completamente de Deus. Aprendeu que, em suas fraquezas, Deus Se faz forte. Aquele que antes se gloriava em sua própria força e sabedoria, agora declarava: "Mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda, por causa de Cristo" (Filipenses 3:7).
Quantos de nós, em nosso caminho, precisamos ser confrontados com nossas fraquezas e orgulho? Quantas vezes nos agarramos a nossos títulos, nossas realizações, nossos talentos, acreditando que essas coisas nos tornam mais valiosos aos olhos de Deus? Mas Paulo nos ensina que é apenas na completa dependência de Cristo que encontramos nossa verdadeira identidade e propósito.
Uma nova identidade em Cristo
Quando Paulo encontrou Jesus, ele não apenas recebeu uma nova missão, mas uma nova identidade. De Saulo, o perseguidor, ele se tornou Paulo, o apóstolo das nações. Ele compreendeu que sua cidadania não estava em Roma, nem em qualquer sistema terreno, mas no Reino de Deus. E é essa identidade que todo cristão deve buscar — a identidade que não é moldada por este mundo, mas transformada pela renovação da mente, como ele mesmo escreveu: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:2).
Paulo nos deixou um legado de fé, resiliência e entrega total. Ele nos ensina que, para ser verdadeiramente livres, devemos nos tornar servos de Cristo. Ele nos mostrou que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossas fraquezas e que a graça é suficiente para nos sustentar em todas as circunstâncias.
Se, assim como Paulo, formos capazes de reconhecer nossas cegueiras espirituais, se estivermos dispostos a ser quebrantados e moldados por Deus, então poderemos experimentar a profundidade da Sua graça e viver uma vida cheia de propósito e significado. Como Paulo, devemos dizer: "Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé" (2 Timóteo 4:7).
E no fim, é isso que importa — não o que fazemos para Deus, mas o que Deus faz em nós e através de nós. Não o quanto nos exaltamos, mas o quanto somos transformados pela Sua graça.
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