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Asas sobre a Tempestade

Olhos da Águia

Eu sou a águia das montanhas de Judá. Desde os tempos antigos, meus olhos contemplaram este povo, vendo reinos surgirem e caírem, reis subirem ao trono apenas para ser derrubados. Já sobrevoei campos férteis, hoje ressecados pela injustiça. O vento que antes carregava o doce aroma das colheitas agora traz o fedor da corrupção e da decadência.

Mas hoje... algo é diferente.

No vale abaixo, vejo um homem caminhar sozinho. Seu manto, empoeirado e gasto pelo tempo, esfrega contra o chão árido. Sua testa está franzida, e há algo inquietante em sua postura. Muitos se curvam aos ídolos, mas ele... ele não. Ele busca algo mais profundo. Ele busca respostas.

Ele sobe a colina, um local onde o silêncio pesa mais que qualquer palavra. O vento sopra forte, mas ele não se intimida.

Eu o observo de cima, meu olhar cortando o horizonte. Ele percebe minha presença e, então, sua voz rasga o silêncio da montanha.

“Até quando, Senhor, clamarei por socorro, e não ouvirás? Por que me fazes ver a iniquidade? Destruição e violência estão diante de mim, a justiça já não existe!”

Sua voz ecoa entre as rochas, não apenas como um grito pessoal, mas como um clamor de um povo desesperado, esquecendo-se de como clamar. O som é pesado, como um trovão distante, e eu, a águia, posso sentir a angústia que transborda de seu peito.

Mas Deus... Deus responde.

Um trovão ressoa nas profundezas das montanhas, e o vento se intensifica. O homem, Habacuque, estremece com a força da Voz que ecoa desde o fundo do céu. É uma voz que faz as montanhas tremerem, que sacode os fundamentos da terra.

“Olha para as nações e contempla! Estou levantando os caldeus, um povo impiedoso e feroz, que marcha sobre a terra, conquistando terras que não lhes pertencem.”

Eu vejo o profeta cair de joelhos. Ele cobre o rosto, e suas palavras saem trêmulas, como uma súplica desesperada.

“Senhor... como podes usar homens tão cruéis para castigar o Teu povo? Não és Tu o Deus eterno? Não morreremos, ó Senhor! Mas... como suportar isso?”

Eu, que já vi muitos reinos caírem, exércitos se destruírem, sei que os caldeus são como lobos famintos, prontos para devorar tudo em seu caminho. Eu entendo o medo de Habacuque. Mas algo nele me intriga. Ele não corre. Ele não amaldiçoa. Ele se mantém firme, esperando, buscando.

Ele sobe mais alto, até a torre de vigia. O vento açoita seu rosto, mas ele não desiste. Ele permanece, firme e resoluto.

“Esperarei. Ficarei aqui até que Deus me responda.”

E assim os dias passam.

Ele não fala. Ele simplesmente espera. Em sua espera, há uma solidão profunda, mas também uma paciência que revela algo mais.

Na quietude da madrugada, a voz de Deus retorna, e desta vez, é clara e firme:

“Escreve a visão, e torna-a bem legível sobre tábuas, para que até quem correr possa ler! Pois a visão ainda está por vir, e não falhará. Embora demore, espera, porque certamente virá. O justo viverá pela fé.”

Eu vejo os olhos de Habacuque brilharem. Ele pega o pergaminho, e suas mãos tremem ao escrever cada palavra com uma confiança renovada, como se agora ele realmente visse além da tempestade que o cercava.

Quando ele desce da torre, não é mais o homem que subiu. Algo nele mudou. Ele não está mais perdido na dúvida. Agora, há uma certeza em sua voz. Ele levanta os braços e, com uma força serena, declara:

"Ainda que a figueira não floresça, ainda que não haja fruto na videira, ainda que os campos não deem alimento e os rebanhos não encontrem pasto... eu me alegrarei no Senhor! Exultarei no Deus da minha salvação!"

O vento forte ainda sopra, mas não o derruba. As nuvens carregam a promessa de tempos difíceis, mas ele não teme. Ele encontrou sua resposta.

Eu sou a águia das montanhas de Judá. Vi o desespero de um homem, mas também vi sua fé erguer asas como as minhas. Habacuque aprendeu a voar acima da tempestade.

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