Uma identidade

     Sansão foi um libertador escolhido por Deus desde o ventre de sua mãe, nascido por um grande milagre — o terceiro registro bíblico de uma mulher estéril dando à luz. Ele foi gerado com a promessa de ser o libertador de seu povo, em um período de completa apatia por parte de Israel diante da opressão dos inimigos. A dominação filisteia não era apenas militar, mas cultural e religiosa. Costumes foram introduzidos vagarosamente, descontruindo a verdadeira fé e sufocando a esperança, negando ao povo a sua verdadeira identidade.

Um povo sem identidade não sabe o que quer! Um filho que não conhece o seu Pai não tem herança para reclamar.

Essa estratégia tem sido adotada pelo diabo ao longo da história. Ele não precisa tirar o homem de dentro da igreja, se consegue implantar costumes corruptos e uma falsa adoração que leva à prática de um pseudo-arrependimento. O diabo promove a ganância disfarçada de direito e liberdade! Foi assim no Jardim do Éden, no Egito, em Israel, e ele continua usando a mesma tática com a Igreja de Cristo. Muitos ainda hoje são iludidos com a sedutora fruta do orgulho, que promete aquilo que já possuímos de graça, mas a oferta dele vem temperada com rebelião.

Homens e mulheres escolhidos por Deus, possuidores de grandes ministérios, talentos e promessas, muitas vezes perdem o foco e a verdadeira unção. Eles se envenenam com doses homeopáticas que corrompem suas almas, colocando seus próprios interesses acima de Deus.

"Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres?" (Mateus 7:22)

À medida que o veneno do relativismo encontra morada em nossos corações, abandonamos a verdadeira Palavra e substituímos Deus por entretenimento e emoções. É uma mistura perigosa, que aos poucos toma o lugar de Deus em nossos corações. Alguns passam a pregar pelo prazer de sentir-se úteis, acreditando fielmente que estão fazendo a obra de Deus, mas no fundo buscam a glória própria. Quando louvam, querem cantar cada vez melhor, mas não exclusivamente para Deus; procuram aplausos. Suas ofertas e dízimos são dados esperando recompensas materiais. Suas orações, por mais belas que sejam, soam para Deus como repetições vazias — cheias de pedidos, mas com pouca gratidão.

Eles perdem pouco a pouco sua verdadeira identidade e deixam de desfrutar o melhor desta terra.

"E quando pedis, não recebeis, porquanto pedis com a motivação errada, simplesmente para esbanjardes em vossos prazeres" (Tiago 4:3, versão KJ1999).

Se você não sabe a qual nação pertence, como pode desfrutar de seus direitos? Como pode estar consciente de seus deveres?

Infelizmente, o diabo tem vencido a batalha ao afastar o povo de Deus de sua verdadeira identidade com o Criador.

Assim como o povo de Israel, Sansão foi envenenado pelo secularismo. Ele começou a buscar seus próprios interesses. Seus atos demonstram que nunca foi por Deus, mas por si mesmo. Cada luta travada, cada conquista grandiosa, tinha sempre um falso gatilho: o uso do poder e dos talentos para buscar os "direitos" que o diabo oferece. Sansão teve fome e comeu do mel, desafiou o próprio Deus, foi seduzido pelos manjares do pecado e, de tudo, se apossou. Uma batalha travada sem propósito é uma batalha perdida.

O cadáver espiritual de Sansão apenas se sustentava em um título vazio, enquanto sua vida espiritual estava em decadência.

Ao perder sua última referência de identidade, o peso de suas atitudes caiu sobre ele. Esse caminho de solidão, rejeição e privações foi, na verdade, uma desintoxicação necessária do velho homem. Sansão precisou aprender a depender unicamente de Deus — um aprendizado longo, doloroso, mas essencial — e, através dele, conheceu o verdadeiro Deus.

Ao recuperar sua identidade, Sansão finalmente fez uma oração de fé, vinda do fundo de um coração verdadeiramente arrependido e livre do peso do pecado. Ele pôde, enfim, lançar-se sem reservas nos braços de seu verdadeiro Pai.

Autor: Dellobato